RIGESA S.A: UMA BREVE HISTÓRIA NO TEMPO

Marcel Trombetta Pazinatto - sócio-fundador da APHV, pesquisador, engenheiro e sócio-correspondente do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas (IHGG) em Valinhos-SP

Resumo: No dia 04 de agosto de 1942 nascia a Gerin Focesi & Cia. A sociedade comercial em comandita simples, fundada por Jasper Bresler, Aldo Focesi e pela família Gerin chamava-se Fábrica de Papelão Campinas. Sua primeira instalação foi estabelecida em antigos ranchos de olaria no distrito de Valinhos. Após mais de 75 anos, com algumas fusões e várias designações societárias, a empresa gerou milhares de empregos e se tornou uma das maiores empresas do seu ramo, além de registrar sua história nos carnavais e no futebol. Deixará muitas lembranças no consciente coletivo e uma nova paisagem deve surgir no centro de Valinhos. A expectativa parece ser grande na esperança de que um novo projeto para o local possa trazer benefícios para a cidade.

RIGESA S.A: A BRIEF HISTORY IN TIME

Abstract: On August 4, 1942, Gerin Focesi & Cia was born. The commercial partnership in simple command, founded by Jasper Bresler, Aldo Focesi and the Gerin family was called Fábrica de Papelão Campinas. Its first installation was stablished in old pottery ranches in Valinhos district. After more than 75 years later, with some acquisitions and various corporate names, the company had created thousands of jobs and become one of the largest companies in its field, in addition to registering its history in carnivals and soccer. Remarkable memories will be imprinted on the collective consciousness and as a new landscape must reshape the center of Valinhos. The expectations and hope that a new project for the site can bring benefits to the city seem very high. 


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Vista parcial da Fábrica de Papelão Campinas (Gerin Focesi & Cia). Valinhos, SP, cerca 1943. Fonte: Acervo APHV

No dia 04 de agosto de 1942 nascia a Gerin Focesi & Cia, no distrito de Sousas, em Campinas. Fundada por Jasper Bresler, Aldo Focesi e pela família Gerin, a sociedade comercial em comandita simples chamava-se Fábrica de Papelão Campinas. Em 1943, em virtude da abundância de água do Ribeirão Pinheiro, os sócios compraram o terreno da antiga olaria da família Franceschini, no distrito de Valinhos – na época com cerca de 20 mil habitantes –, para a montagem da fábrica. Suas primeiras máquinas foram fornecidas pela família Gerin, que era proprietária da metalúrgica McHardy Manufatureira, de Campinas. Todo esse início de implantação ficou registrado na memória de Renato Capovilla: 

"Fui o primeiro funcionário da empresa. Eu fazia mecânica no Colégio Bento Quirino e fui convidado pelo Jasper para trabalhar na Fábrica de Papelão Campinas, com sede em Valinhos. Não existiam aquelas construções ao lado da ferrovia e no início desse novo emprego ajudei a desativar os antigos barracões da olaria dos Franceschinis e lá foi o começo de tudo.(CAPOVILLA, 2013)."

                   

Recorte de uma planta da região central do distrito de Valinhos e os antigos ranchos da olaria da família Franceschini (destaque no círculo na cor vermelha) próximo de um trecho sinuoso do Ribeirão Pinheiros. Fonte: Cartonificio Valinhos S.A, planta da Vila de Valinhos, 1934. (escala 1:5000).

Além da construção da fábrica, o ano de 1943 foi marcado também pelo início da produção de chapas de papelão. Os primeiros noventa e dois funcionários usavam como matérias-primas o capim-jaraguá e as aparas de papel e papelão. Na época, secava-se o papelão ao Sol e o produto era estendido nas proximidades da fábrica e, posteriormente, era alisado em calandras. As chapas de papelão de diferentes gramaturas eram utilizadas em capas de livros, enchimentos de sapatos, interior de portas de automóveis, entre outros produtos. Ainda na década de 1940, um ramal ferroviário (desvio) exclusivo para a empresa foi construído para ajudar no despacho e recebimento de mercadorias. Neste período, a ferrovia era administrada pela antiga Companhia Paulista de Estradas de Ferro (1868-1971).

Vista parcial da cidade de Valinhos. Ao fundo e, à esquerda e próximo da chaminé, as instalações da fábrica de Papelão Campinas (Gerin Focesi & Cia.). Valinhos, SP, 1946. Fonte: Acervo Haroldo Pazinatto

No final da década de 1940 um anúncio do início da produção de papelão ondulado para embalagens da primeira fábrica de caixas foi noticiado no jornal carioca Diário da Noite, na edição de 30/10/1948: "Proteção mais segura para sua mercadoria. É uma das razões que recomendam as caixas de papelão ondulado Campinas". (ABFLEXO, 2018).

Em 1950, a companhia tornou-se sociedade anônima. Dois anos depois, a Ribeiro & Gerin S.A deixou de produzir o papel compacto. Neste período, também ocorre a criação do nome RIGESA S.A., que é uma junção das iniciais dos nomes dos sócios; o "RI" de Ribeiro, "GE" de Gerin e o "SA" de sociedade anônima. 

As dificuldades econômicas paralisaram a produção da fábrica, levando às vendas de suas ações para West Virginia Pulp and Paper Company (WVPP), com negociação fechada em 9 de junho de 1953. A origem da WVPP remonta ao século XIX, nos EUA, quando William Luke e seus filhos fundaram, em 1888, a fábrica de papel Piedmont Pulp and Paper Company of Allegany County. Os novos proprietários mantiveram o nome Rigesa como sua marca no Brasil e assim surgia a Rigesa S.A. Celulose, Papel e Embalagens, com administração americana e brasileira. Ainda nos anos 50, a empresa adquiriu uma máquina de fita gomada para tecido e papel, e montou o primeiro laboratório de Embalagens da América Latina. Também substituiu o capim-jaraguá pelo bagaço de cana-de-açúcar para a obtenção de celulose. 

A década de 1960 trouxe mudanças profundas no comportamento das pessoas, com o surgimento da sociedade de consumo em massa no mundo ocidental. Na Rigesa, estas mudanças coincidiram com um período de acelerado progresso. Em Valinhos, houve a modernização da "Máquina de Papel n°1", a instalação dos equipamentos do setor de Plypak e a modernização e expansão da Fábrica de Caixas de Valinhos. Em 1966, após a aquisição da "Máquina de Papel n°2", a produção mensal chegou a 800 toneladas de papel e foi inaugurada, em 1969, a fábrica de tintas.

Na década de 1970, a partir da inauguração da Fábrica Papelão de Três Barras, os recordes anteriores foram superados. A Rigesa alcançou recordes absolutos nos setores de produção, expedição e faturamento. Um total de aproximadamente 11 milhões de metros quadrados de produtos acabados foram expedidos, com uma média diária de 60 caminhões carregados. Em 1976, a empresa iniciou a emissão de notas fiscais e faturas geradas através de um computador. Os planos para 1977 incluíam a necessidade de aumentar em 15% o faturamento do ano anterior.

Vista parcial da cidade de Valinhos e, ao centro, a empresa Rigesa S.A. Valinhos, SP, [19xx]. Fonte: IBGE

Após 20 anos, já na década de 2000, a Rigesa integrou-se ao grupo norte-americano Westvaco, que no ano de 2002 fundiu-se ao grupo Mead. Desde então, a matriz da Rigesa passou a ser a MeadWestvaco Corporation (MWV), líder em embalagens, papéis revestidos e especiais, produtos ao consumidor, material de escritório e produtos químicos especiais, com sede em Stamford, nos EUA. No ano de 2015, o grupo MWV se fundiu com a RockTeen Company e surgiu um novo nome: a WestRock Company.

No ano de 2017, a empresa anunciou a saída da unidade de Valinhos para uma nova planta na cidade de Porto Feliz-SP. O motivo seria a falta de condições que permitiam o crescimento sustentável para atender o mercado emergente. Entre os anos de 2019 e 2021, iniciou-se a transferência para a nova unidade e o processo de desmontagem e demolição das construções existentes na antiga área. Segundo a companhia, o emprego do espaço em novos empreendimentos pode auxiliar no "desenvolvimento socioeconômico da região em um futuro próximo". Com a saída da empresa, a cidade de Valinhos deixou de arrecadar em torno de 6 milhões de reais. 

Vista parcial das antigas instalações da Rigesa S.A sendo desmontadas. Valinhos, SP, 27/03/21. Fonte: Marcel Pazinatto.

Podemos afirmar que essa empresa, que iniciou suas instalações em antigos ranchos de olaria e que, de tempos em tempos, sofreu várias fusões empresariais, acompanhou o crescimento e boa parte da industrialização do Brasil. Geograficamente, ao longo desses mais de 75 anos, junto do Cartonificio Valinhos (1934 - atual) e da antiga José Milani & Cia (1896 - atual Unilever), sua presença era confundida com a paisagem da região central da cidade. 

Além da questão industrial, a qual gerou milhares de empregos e permitiu tornar a empresa uma das maiores do ramo no país, a Rigesa também escreveu sua história nos carnavais através de uma própria escola de samba e no futebol, através da agremiação Associação Desportiva Classista Rigesa (ADC Rigesa), antigo Papelão Futebol Clube

Agora, nesse início de nova década, a empresa inicia a construção de uma outra história em um outro local, com outros personagens e novos desafios. No centro de Valinhos, uma nova paisagem deve surgir e a expectativa parece ser grande na esperança de que um novo projeto para o local possa trazer benefícios para a cidade.

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Designações societárias da empresa durante algumas décadas:

1942 - Fábrica de Papelão Campinas / Razão Social: Gerin Focesi e Cia. Período: 1942 a 1948 

1948 - Ribeiro & Gerin e Cia. ltda. Período: 1948 a 1950

1950 - Ribeiro & Gerin S.A. – Indústria de Papel, Papelão e Embalagens. Período: 1950 a 1953

1953 - Rigesa S.A. – Celulose, Papel e Embalagens. Período: 1953 a 1956

1963 - Rigesa, Celulose, Papel e Embalagens ltda. Período: 1963 a 1975

2002 - MeadWestvaco Corporation (MWV). Período: 2002 a 2015

2015 - WestRock Company. Período: 2015 - atual

Acervo da Associação Desportiva Classista Rigesa (ADC Rigesa): A Associação de Preservação Histórica de Valinhos (APHV) possui em seu acervo dezenas de troféus dos antigos carnavais e mais de 1000 negativos em película que registram momentos dos campeonatos de futebol da ADC Rigesa, em especial, do campeonato de futebol amador da capital paulista chamado Desafio ao Galo.


Referências:

ABFLEXO - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA TÉCNICA DE FLEXOGRAFIA. História da flexografia no Brasil.  São Paulo: Scortecci, 2018. 199 p.

CAPOVILLA, Renato: depoimento (abr. 2013). Entrevistador: Marcel Trombetta Pazinatto. Valinhos-SP. Entrevista concedida para a confecção das maquetes do projeto: Os 60 anos de imagens de Haroldo Pazinatto.

EVANS, Fernando. De saída de Valinhos, fábrica de papelão coloca área à venda para empreendimentos imobiliários. Globo.com, 2021. Disponível em: <https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2019/10/12/de-saida-de-valinhos-fabrica-de-papelao-coloca-area-a-venda-para-empreendimentos-imobiliarios.ghtml>. Acesso em: 23 mar. de 2021.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Catálogo. Biblioteca, 2021. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?id=448110&view=detalhes>. Acesso em: 15 mar. de 2021.

MARTINI, Desiree Colucci. Exposição Rigesa - 60 anos semeando tradição, 2002. Valinhos, SP.

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